0 material: gesso (a matéria -
o gesto)
0 uso do gesso me permite explorar a matéria e o gesto. Na sua
passagem de líquido até a consistência pétrea
do processo de endurecimento já completo, passando por diferentes
estados do pastoso, o gesso me deixa pesquisar e trabalhar com o mesmo
material diversos estados da matéria de forma quase simultânea.
Assim o duro, o mole, o seco, o macio, nascem na simplicidade da matéria
gesso. Estranho material que nos obriga ao gesto, ao contato íntimo
e rápido com a sua materialidade mutante, que registra fielmente
o devenir do trabalho. 0 gesso guarda na sua misteriosa entranha a capacidade
da transformação e da memória, de ser o registro
do traço e poder ser o próprio traço, molde da escultura
e a própria escultura. Instante do movimento, captação
do momento, o gesto define-se no meu trabalho como indício e não
como elemento de una performance. Cada gesto provoca uma lembrança
do já vivido, do processo, da arqueologia da obra.
A parede (o suporte - o espaço - o limite)
A parede nos brinda a sua generosidade de espaço. Espaço
que limita outros espaços, que determina o espaço dos cômodos,
do dentro e do fora, do alto e do baixo. Espaço ainda mais generoso
quando contém os próprios espaços (o tijolo, a argamassa)
e quando suporta outros (o prego, o quadro). A dialética dimensão
humana / monumento se acentua no uso da parede como suporte. 0 conceito
de limite da obra muda, a parede acrescenta seus próprios espaços
ao trabalho.
0 local
Na trama dos significados de cada local, a obra se desenvolve imersa em
estímulos diferentes, cada lugar sobredetermina o evoluir do trabalho,
mesmo com anterioridade ao evento. Impossível prescindir às
influências da história do local, do uso do mesmo, do imaginário
que o envolve.
A transitoriedade (o evento - a memória - o descartável)
Assim como a peça de teatro, que se desenvolve de ensaio em ensaio
na privacidade da platéia vazia, para acontecer e sumir depois
de certo tempo, a obra plástica como evento, na sua condição
de efêmera, poderá perdurar em outras dimensões que
não às do objeto. Ou como o gesso, memória descartável
de infinitas obras, sumir simplesmente.
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